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Forte abraço, ex-amigos: por que deixei o churrasco, o futebol e a cerveja para trás

Topo da montanha Machu Picchu (foto: Bárbara Pacheco)

Forte abraço, ex-amigos: por que deixei o churrasco, o futebol e a cerveja para trás
  • Publishedjulho 15, 2025
Forte abraço, ex-amigos: por que deixei o churrasco, o futebol e a cerveja para trás

Topo da montanha Machu Picchu (foto: Bárbara Pacheco)

Acordei na madrugada, por volta das quatro. Louco para voltar a dormir, logicamente. Sonhei com um velho amigo. Um daqueles afastados pela vida. Éramos um grupo engraçado, divertido, uns zoavam os outros. Não sei se fui eu quem mudei, ou eles não mudaram. Inverdade, sei sim.

Comecei a procurar outros interesses. Cansei de futebol por exemplo, apesar de trabalhar às vezes com jornalismo esportivo, por necessidade, logo canso. Ainda mantenho conhecimento o bastante para as conversas superficiais do cotidiano nos elevadores.

Encontrei uma amiga de faculdade outro dia, no aniversário de um ano da filha de outra amiga da mesma época. Perguntou daqueles amigos, ela namorou um deles. Informei sobreo o afastamento, algo natural da vida, em verdade. Ela comentou “mas vocês eram tão unidos”.

Refleti. Eram os famosos 20 e poucos anos. Outra vida. Um primeiro afastamento foi minha escolha por uma alimentação diferente, virei vegetariano em 2016. Logo eu que durante sete anos seguidos organizava um churrasco de aniversário regado a cerveja e música, onde alguns casamentos começavam – e outros terminavam.

Ah, importante, também é raro tomar álcool hoje em dia. Aí complicou. Três bases clássicas da cultura vigente não mais me chamam atenção: futebol, cerveja e churrasco. Comecei a ver o primeiro como um ópio, uma droga que leva embora um tempo precioso da vida. O álcool é mais ou menos a mesma coisa, uma droga potente. Com moderação, é possível, claro, um vinho aqui, outro acolá, mas não me faz falta alguma.

Churrasco. Sinto a dor das pessoas quando afirmo não comer carne.

“Não consigo”, logo comentam. O incômodo delas é evidente, pareço alienígena. Pena não lembrar o planeta do qual vim. Esses dias fui ao encontro de um amigo, o qual bebe e come carne, inclusive, e acabou sendo num shopping onde acontecia um grande evento de rock e churrasco. Havia uma coisa chamada “plantação de carne”, ou algo assim, com aqueles pedaços de animais mortos girando infinitamente. Realmente era como uma visão do inferno para mim.

A amizade com esse amigo em específico se aprofunda em assuntos como relacionamentos e amizade em si. Ele bebe sua cerveja e come sua carne. Tomo a minha também – sem álcool – ou um café. Com os outros do começo do texto ficou difícil, alguns pararam no tempo onde a graça é ser babaca ou fofocar, falar mal e rir dos outros.

Do meu lado, há uma certa nostalgia talvez. Mas é saudade de algo inexistente. Algo passado. Foram muitas praias e resenhas, videogames, peladas, cervejas em bares diversos, sambas despretensiosos. Contudo, escolhi mudar. Conheci a meditação, li livros poderosos (como Humano, Demasiado Humano, de Nietzsche), vi filmes provocadores (A Carne é fraca), mochilei sozinho e acompanhado. Seria um desperdício de alma ficar estagnado.

A cada novo dia, sinto a saúde firme, acolho a solitude, os animais me percebem diferente (e eu a eles), o planeta parece até agradecer, mas sou eu que fico mais grato.

Ex-amigos, forte abraço, mas agora me despeço para abraçar o mundo.

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Fonte: diariodorio.com