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Além do seu Orixá, outros Orixás podem te abençoar e abrir caminhos

Não é apenas o seu Orixá quem abre seus caminhos. No Candomblé e na Umbanda, todas as divindades se unem em uma grande rede de equilíbrio e proteção. Cada uma

Além do seu Orixá, outros Orixás podem te abençoar e abrir caminhos
  • Publishedoutubro 30, 2025
Além do seu Orixá, outros Orixás podem te abençoar e abrir caminhos

Não é apenas o seu Orixá quem abre seus caminhos. No Candomblé e na Umbanda, todas as divindades se unem em uma grande rede de equilíbrio e proteção. Cada uma delas guarda um dom, uma força, um aspecto da natureza e da existência humana. E essas energias se completam, se auxiliam e se reconhecem como irmãs. Não existe rivalidade entre os Orixás. Existem funções diferentes, caminhos que se cruzam, mãos que se estendem.
Quando uma pessoa enfrenta um problema de justiça, é natural buscar a força de Ṣàngó, senhor do trovão e do equilíbrio. Da mesma forma, alguém que enfrenta uma enfermidade pode recorrer a Ọbalúwáiyé, aquele que cura as feridas do corpo e da alma. As energias se entrelaçam e se ajudam, porque todas fazem parte do mesmo princípio divino.
No universo do sagrado, não há limites para o cuidado. Se um filho de Ṣàngó pode pedir saúde a Ọbalúwáiyé, por que um filho de Ọbalúwáiyé não poderia recorrer à justiça de Ṣàngó? A sabedoria dos Orixás está em compreender o momento de cada um e oferecer o que o coração humano precisa.
O mesmo acontece com os fios de contas, que são mais do que adornos religiosos. Eles são pontes entre o corpo e o espírito, instrumentos de força e proteção. No Candomblé, um abíyán — aquele que ainda não é iniciado e frenquenta o terreiro, quando faz o Bọrí, o culto à cabeça, recebe o primeiro fio de contas de Òṣàlá. É um colar simples, branquinho, que simboliza a paz e o equilíbrio do criador. Esse fio representa a ligação entre a pessoa e o seu Orí, e é usado como escudo espiritual.
Na Umbanda, o processo é semelhante. No início do desenvolvimento mediúnico, a primeira guia usada também é a de Oxalá. Independentemente do Orixá de cabeça, é ele quem dá o ponto de partida, pois sua luz organiza, purifica e protege. É a vibração branca que prepara o médium para caminhar entre as outras forças da natureza.
O privilégio do lágídígbà
Em minha trajetória, aprendi que o sagrado se manifesta de maneiras que muitas vezes não compreendemos de imediato. Há momentos em que somos escolhidos por energias que não são, necessariamente, aquelas que regem o nosso destino. Compreendi isso quando Ọbalúwáiyé, durante uma obrigação de uma pessoa, me concedeu o privilégio de usar o lágídígbà, o colar sagrado dos donos da terra.
A divindade, já incorporada em seu filho e ainda sem o azé-fìlà, aproximou-se, segurou o colar e indicou que eu o usasse. Ninguém ali sabia da batalha silenciosa que eu enfrentava, mas ele sabia. Ele viu. Ele cuidou. Desde então, o lágídígbà passou a acompanhar minhas rezas e minha caminhada.
Sou filho de Ọbàtálá-Òṣàlá, o senhor do branco absoluto, o criador que molda a existência com serenidade. Mas foi Ọbalúwáiyé quem me presenteou com o colar de chifre de búfalo, símbolo de resistência e permanência. Entendi, então, que o sagrado não se restringe à filiação. Orixá não se limita, ele expande.
Uso o lágídígbà com honra e gratidão, porque foi o próprio dono das curas quem me autorizou. Ele me firma, me fortalece e me lembra que a fé é um solo comum onde todas as divindades se encontram.
No Candomblé, aprendemos que cada Orixá tem um canto, um ritmo e uma cor, mas todos dançam na mesma roda. Em poucas exceções, ou ritos específicos alguns se destacam. A fé verdadeira não separa, integra. Por isso, o fio de contas de outro Orixá pode, sim, te proteger, havendo permissão e respeito.
Axé para todos!

Fonte: extra.globo.com

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